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Comitê: Psicologia

O Manejo Psicoemocional dos Resultados do Laboratório de Embriologia – Expectativa e Realidade dos Pacientes

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Flávia Giacon – Psicóloga (Membro do Comitê de Psicologia da SBRH)
Fernanda Peruzzato – Embriologista (Coordenadora do Comitê Embriologia da SBRH)

Pessoas procuram centros de reprodução assistida com o intuito de resolverem uma importante etapa de suas vidas que é a concepção de um filho. As etapas e desfechos que envolvem um tratamento de fertilização in vitro são complexos e desconhecidos para a maior parte dos pacientes que iniciam essa jornada e, nem sempre, a solução procurada vem como planejado.

A partir da prática clínica, pude perceber o quanto os resultados reais do laboratório de embriologia confrontam fortemente as expectativas da grande maioria dos meus pacientes, sempre ávidos por melhores resultados e assim, terem suas chances de sucesso aumentadas naquela tentativa para engravidar. Desta forma, optei por discutir sobre esta minha percepção com uma profissional atuante no laboratório e, que com quem poderia estabelecer uma valiosa interface entre psicologia e embriologia. A discussão avançou e optamos por um breve estudo a respeito da temática, visto que nossas percepções convergiam.

Após uma rápida pesquisa na base de dados Pubmed, observamos poucos artigos que tratam sobre o manejo psicoemocional dos resultados reais do laboratório de embriologia.

Existe uma importante lacuna que requer bastante atenção durante esse processo, no que se refere à interpretação pessoal e emocional dos pacientes frente aos resultados obtidos no laboratório, os quais não dependem somente deste último, pois cada caso tem sua complexidade, também atrelada aos fatores de infertilidade de cada parte envolvida nesses tratamentos. Os resultados laboratoriais são modificados de acordo com os fatores causais envolvidos, respeitando uma individualização de cada contexto do paciente. O embriologista responde pelo controle de qualidade das condições pelas quais gametas e embriões estão inseridos, proporcionando-lhes condições favoráveis ao desenvolvimento embrionário. Entretanto, muitos aspectos não são controláveis e, o aproveitamento do ciclo é variável. Na maioria dos casos, o número inicial de oócitos não reflete o número final de embriões com potencial de implantação.

Com isso, os resultados do laboratório de embriologia, frequentemente, confrontam a expectativa dos pacientes. Neste sentido, a psicologia ajuda no enfrentamento desses resultados, auxiliando-os a se conectarem com suas reais chances. Já é bem reconhecido que a atenção psicológica frente à experiência individual de passar por este processo é importante, consistente com o fato que tratamentos de fertilidade são estressantes e, nem sempre, o resultado esperado é conseguido.

A psicoeducação é uma ferramenta utilizada para levar informações com embasamento aos pacientes, para que possam lidar melhor com os resultados e fazerem escolhas com mais consistência. Aos poucos, eles têm mais condições de compreender e separar o que é fisiológico e que isto independe da sua própria expectativa e esperança. O processo auxilia o paciente na aceitação do seu quadro e nas suas tomadas de decisão, o que pode viabilizar uma melhor adesão ao tratamento e seus desdobramentos.

Dentro desse contexto, é de fundamental importância a acessibilidade à equipe de embriologistas, a fim de que possam estabelecer uma relação de transparência durante todas fases do tratamento, fazendo com que o paciente, ao mesmo tempo que mantenha sua esperança, tenha sua tomada de decisões baseada nas suas reais possibilidades e respeitando seus limites fisiológicos, físicos, emocionais e financeiros.

Frente a esse panorama, é cada vez mais reconhecido a importância de se estabelecer um diálogo da equipe de embriologia com os pacientes, que passam a ficar mais conectados às informações e compreendem, cada vez mais, a importância do laboratório. Além disto, o manejo psicoemocional é necessário durante e, algumas vezes, após o tratamento. É importante que o paciente não fique refém da sua esperança, mas sim que assuma suas reais possibilidades. Desta forma, poderá ter a oportunidade de ressignificar sua realidade para que possa pensar no próximo passo a ser dado, com os pés no chão, lidando com sua condição e, potencialmente, alcançando os objetivos a partir de suas reais chances.

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Referências Bibliográficas:

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