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Comitê: Psicologia

Medicina e Infertilidade do Corpo

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Juliana Roberto

O casal é considerado infértil quando não pôde engravidar naturalmente depois de um ano de tentativas sem o uso de contraceptivos. A infertilidade também se passa no corpo, na área mais íntima de um corpo/ de um casal, relacionando-se a grandes questões pessoais. Na modernidade a infertilidade está em destaque, tanto pelas mudanças sociais que vem ocorrendo quanto pelo adiamento da primeira gestação, a mulher tem lutado pelo que deseja e sabe que existem outros prazeres no mundo, não só a maternidade.

A medicina criou condições que ultrapassam o natural, não há limites para a realização dos desejos, o que antes estava apenas na ordem do sonhar, hoje é possível de realização. A reprodução assistida possibilitou produzir seres humanos sem a necessidade da relação sexual, trouxe para a atualidade o que há alguns anos era inimaginável. O aperfeiçoamento da medicina, e um maior alcance do que se passa concretamente dentro dos corpos, tem possibilitado grandes descobertas. Recentemente, havia somente duas possibilidades: vida sem filhos ou adoção, hoje, com o auxílio das novas tecnologias, abre se um leque.

A mulher está cada vez mais enredada em outras questões sociais e não só na maternidade, porém, permanece restrita em seu corpo físico que continua submetido ao tempo e as demarcações físicas. Este é um dos contrassensos vivido na infertilidade, pode-se prolongar o tempo e as condições de vida de uma pessoa, mas ainda não se pode prolongar a sua capacidade reprodutiva, apesar de algumas pesquisas seguirem por este caminho, a mulher não pode contar com este avanço até o momento, a mulher não pode contar no presente, com algo que dê a ela “mais tempo”, “mais juventude”, no que diz respeito aos óvulos, ao corpo.

A psicanalista argentina Patrícia Alkolombre (2008) desenvolveu o conceito “corpos transparentes” para elucidar a possibilidade de se adentrar num corpo, trazendo uma nova dimensão para o que até então era apenas suposto.

O médico especialista em reprodução assistida acompanha, por inúmeros ultrassons, os folículos pré-antrais, acompanha a indução da ovulação, vê os ovários, conta o número de folículos presentes, captura os óvulos no momento da punção e transfere para dentro do corpo novamente este óvulo acompanhado, puncionado e agora, no momento da transferência, fecundado. Estes óvulos fecundados, os embriões, são sentidos pelos pacientes como “filhos” “bebês” e ainda fora do corpo, os técnicos que trabalham nos laboratórios, os embriologistas, “primeira babá” dos bebês (nome denominado por eles mesmos) os classificam como de “boa ou má qualidade” e sugere ao médico o considerado “melhor” para ser transferido ao útero.

Sem dúvidas há muitos questionamentos de como lidar com toda essa tecnologia e mudanças geradas pela medicina. Há a ideia de controle e onipotência que toda essa situação pode ocasionar. Contudo, a concepção continua acontecendo da mesma maneira, com a junção de algo de um corpo, o gameta feminino, com algo que vem de outro corpo, o gameta masculino. Considero que esta é uma constatação relevante para pensarmos nos limites impostos pela natureza e de essencial importância que tal marco seja reconhecido pela ciência.