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Comitê: Psicologia

Criopreservação Oncológica

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Autoras: Cássia Avelar, Helena Prado, Kátia Straube, Rose Marie Melamed

Comitê de Psicologia SBRH: Lia Dornelles, Valéria Teixeira, Arielle Nascimento, Cássia Avelar, Débora Farinati, Flávia Giacon, Helena Montagnini, Helena Prado, Juliana Santos, Kátia Straube, Luciana Leis, Rose Marie Melamed, Simone Perelson, Vânia Dossi

 

 Highlight

 A oncofertilidade é uma área multidisciplinar da medicina reprodutiva. O tratamento consiste em preservar os gametas dos pacientes oncológicos, homens e mulheres que foram diagnosticados com câncer. O tratamento é indicado para preservar a fertilidade de pacientes que queiram ter filhos biológicos no futuro, já que os tratamentos de quimioterapia e da radioterapia comprometem a fertilidade. Câncer e infertilidade são acontecimentos de vida carregados de emoções angustiantes. Daí a necessidade de que o oncologista, o fertileuta e o profissional de saúde mental estejam alinhados na atenção a esses pacientes, para que possam oferecer suporte integrado neste momento de suas vidas. 

Introdução

O diagnóstico de câncer tem, geralmente, um efeito devastador na vida do indivíduo que o recebe, seja pelo temor às mutilações e desfigurações que os tratamentos podem provocar, seja pelo medo da morte ou pelas muitas perdas que ocorrem nas esferas emocional, familiar e social. Trata-se de um sofrimento que comporta representações e significados atribuídos à doença, interferindo nas relações interpessoais.

Quando a possibilidade da infertilidade se associa ao diagnóstico de câncer é de se esperar que o estado emocional já vulnerável, se intensifique, o que traz a necessidade de ajustamentos. Como pontuam Melamed e Avelar1, se ao doente oncológico for dada a possibilidade e a esperança de manutenção da sua fertilidade, considera-se que uma parte de si não morrerá e esse é um motivo a mais para manter-se vivo.

Avanços, preservação e orientação

Os progressos no diagnóstico e na terapia do câncer vem ampliando significativamente a esperança de vida dos pacientes e incrementando a busca pela preservação da fertilidade. Apesar das informações sobre o uso de métodos contraceptivos dadas ao paciente para evitar gravidez durante o tratamento do câncer, observa-se que essas são insuficientes. Da mesma forma, orientações sobre os métodos de preservação da fertilidade ou os meios para alcançá-la, não fazem parte da rotina médica embora seja um tema relevante e atual. Estudos mostram que ainda existe pouca informação sobre a criopreservação aos pacientes oncológicos2,3,4  No entanto, desde agosto de 2023, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que as operadoras dos planos de saúde têm a obrigação de custear o procedimento de criopreservação de óvulos de pacientes com câncer, como medida preventiva diante do risco da infertilidade5

Suporte psicoemocional

A literatura indica que a fertilidade afetada após tratamento de câncer  traz um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes e está associada a um risco aumentado de pior saúde mental2,3,4,6,7,11,12,16.

A importância de se dar a opção de preservar a fertilidade ou de receber informações não é apenas médica, mas também psicológica. A tarefa de acolhimento e orientação psicoemocional disponibilizada por um profissional de saúde mental especializado em fertilidade, concomitante ao oncologista, está associada a uma melhor saúde psicológica e à redução do arrependimento nos pacientes que realizaram a preservação, se comparado àqueles que não a fizeram8,9,10,15.

 Considerações Finais

A atenção integral aos pacientes com câncer requer a compreensão de suas necessidades psicológicas, a fim de protegê-los do sofrimento a longo prazo. Além de considerar a relevância do aconselhamento especializado e a manutenção da tomada de decisão ativa dos pacientes sobre o seu planejamento reprodutivo, a abordagem psicológica deve ocorrer simultaneamente ao tratamento oncológico. Embora essa atenção deva ocorrer de modo personalizado, o tratamento exige uma abordagem multidisciplinar para um melhor acompanhamento no decorrer de todas as etapas. Junto ao oncologista e ao fertileuta, cabe ao profissional de saúde mental oferecer apoio a fim de amenizar os impactos emocionais e sociais durante e após o tratamento.,13,14,15

             

Referências

  1. Melamed, RMM.; Avelar, CC. Criopreservação Oncológica. In: AVELAR, C.C.; CAETANO, J.P.J. Psicologia em Reprodução Humana – SBRH. São Paulo: SBRH, 2018. p. 82-86.
  2. Logan S, Perz J, Ussher J, Peate M, Anazodo A. Systematic review of fertility‐related psychological distress in cancer patients: informing on an improved model of care. Psycho‐Oncology. 2019; 28:22‐30.
  3. Oktay K, Harvey BE, Partridge AH, et al. Fertility preservation in patients with cancer: ASCO Clinical Practice Guideline Update. J Clin Oncol. 2018; 36:1994‐2001
  4. Suzuki N. Clinical Practice Guidelines for Fertility Preservation in pediatric, adolescent, and young adults with cancer. Int J Clin Oncol. 2019;24(1):20‐27.
  5. STJ. Plano de saúde deve custear criopreservação de óvulos de paciente com câncer até o fim da quimioterapia. Brasília, 17 ago. 2023. Disponível em: Plano deve custear criopreservação de óvulos na quimioterapia (stj.jus.br). Acesso em: 27 set. 2023.
  6. Yasmin, E, Balachandren N, Davies MC, et al. Fertility preservation for medical reasons in girls and women: British Fertility Society policy and practice guideline. Human Fertility (Cambridge, England). 2018; 21:3‐26.
  7. Logan S, Anazodo A. The psychological importance of fertility preservation counseling and support for cancer patients. Acta Obstet Gynecol Scand. 2019; 98:583–597. https://doi.org/10.1111/aogs.13562
  8. Jadoul P, Kim SS, on behalf of IPC. Fertility considerations in young women with hematological malignancies. J Assist Reprod Genet. 2012; 29:479‐487.
  9. Lee SJ, Schover LR, Partridge AH, et al. American Society of Clinical Oncology recommendations on fertility preservation in cancer patients. J Clin Oncol. 2006; 24:2917‐2931
  10. Letourneau JM, Ebbel EE, Katz PP, et al. Pretreatment fertility counseling and fertility preservation improve quality of life in reproductive age women with cancer. Cancer. 2013; 118:1710‐1717
  11. Rodriguez‐Wallberg, KA. Principles of cancer treatment: impact on reproduction In: Quinn G, Vadaparampil S, eds. Reproductive Health and Cancer in Adolescents and Young Adults. Dordrecht, the Netherlands: Springer, 2012:1‐9.
  12. Logan S, Perz J, Ussher J, Peate M, Anazodo A. Clinician provision of oncofertility support in cancer patients of a reproductive age: a systematic review. Psychooncology. 2018;27:748‐756
  13. Logan S, Perz J, Ussher JM, Peate M, Anazodo A. A systematic review of patient oncofertility support needs in reproductive cancer patients aged 14 to 45 years of age. Psycho‐Oncology. 2018;27:401‐409
  14. Logan S. Long‐term psychological impact of interrupted fertility in cancer patients: a systematic review informing on an improved model of care. Eur Med J Reproud Health. 2018;4:61‐62.
  15. Wang Y, Anazodo A, Logan S. Systematic review of fertility preservation patient decision aids for cancer patients. Psychooncology. 2019; 28:459‐467.
  16. Ussher JM, Perz J, (ACFST) TACaFST. Threat of biographical disruption: the gendered construction and experience of infertility following cancer for women and men. BMC Cancer. 2018; 18:1‐17.


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