Fone: 11 5055-6494  |  11 5055-2438
Whatsapp da Sociedade
Associe-se à
SBRH
Renove sua Anuidade
Área do
Associado

Comitê: Psicologia

Criopreservação eletiva (social) de óvulos

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email

Autoras: Débora Farinati, Helena Montagnini, Juliana Roberto dos Santos, Lia Mara Dornelles, Luciana Leis.

Comitê de Psicologia SBRH: Lia Mara Dornelles, Valéria Teixeira, Arielle Nascimento, Cássia Avelar, Débora Farinati, Flávia Giacon, Helena Montagnini, Helena Prado, Juliana Roberto dos Santos, Kátia Straube, Luciana Leis, Rose Marie Melamed, Simone Perelson, Vânia Dossi.

Highlight

A criopreservação eletiva de óvulos, também referida como criopreservação social, tem crescido de forma expressiva na atualidade. Diante das mudanças de comportamento da mulher em relação ao momento percebido como ideal para a realização do desejo de maternidade, a criopreservação passa a ser uma salvaguarda do potencial reprodutivo futuro. No entanto, é fundamental que a mulher receba informações de qualidade sobre os limites e as possibilidades ofertados pela técnica e tenha um espaço de reflexão sobre sua decisão, uma vez que a escuta psicológica é essencial nesse processo.

Introdução

Nos últimos anos, o planejamento familiar das mulheres vem tendo algumas mudanças significativas, e o adiamento da maternidade está entre elas. A ampliação das possibilidades de gratificação feminina para além do âmbito da família, a sedimentação do lugar da mulher no mercado de trabalho e a possibilidade de criopreservação de óvulos são fatores que contribuíram expressivamente para que essa mudança de comportamento ocorresse.

A possibilidade de adiar a maternidade a fim de aguardar o momento e o parceiro ideais para a sua realização encontra-se dentre as principais motivações para a criopreservação. No entanto, é fundamental o acesso a informações de qualidade sobre as possibilidades ofertadas e, também, sobre os limites impostos pelo congelamento de óvulos, uma vez que há certa ilusão de garantia de sucesso ao utilizá-los, ou seja, espera-se sempre que a gestação aconteça.

 

Intenção de criopreservar e suas motivações

Diversos estudos investigaram as motivações de mulheres para o congelamento de seus óvulos. Dentre elas, está a dificuldade ou o receio de não encontrar um companheiro adequado,;  o medo de não poder ter filhos em função da escolha errada do parceiro; o desejo de evitar arrependimentos e de sentir culpa no futuro; o medo de perder o tempo hábil para utilizar os próprios óvulos para constituir uma família convencional2,; a preferência por conceber naturalmente e manter os óvulos congelados por garantia; e a busca por uma carreira, fator ocasionado pelo crescente investimento das mulheres em educação e, consequentemente, pelo aumento da independência e autonomia. Além disso, algumas mulheres relacionaram a intenção de criopreservar ao objetivo de diminuir a ansiedade decorrente da expectativa do encontro de um parceiro3, uma vez que não desejam utilizar sêmen doado.1

Segundo Caughey e White3 (2021), mulheres influenciadas por pessoas significativas em suas vidas se mostraram mais favoráveis à criopreservação. Além disso, a divulgação de histórias de mulheres mais velhas (celebridades ou não) que tiveram filhos com óvulos criopreservados foi outro fator influente para a intenção de congelar seus óvulos, sobretudo para mulheres mais velhas e solteiras.

 

Benefícios da criopreservação

Mulheres que fizeram o congelamento de óvulos, apontaram, como benefícios, o aumento da oportunidade de encontrar um parceiro adequado (59%) e a diminuição da pressão para engravidar (41%).3

 

Riscos

O congelamento de óvulos é uma maneira de tentar prevenir o declínio da fertilidade associado ao envelhecimento. Contudo, embora produza uma sensação de segurança, essa prática não está isenta de riscos. Há de se considerar que gestações de mulheres com mais de 40 anos estão associadas a complicações, prematuridade dos bebês e maior necessidade de intervenções no nascimento.3

Frequentemente, as mulheres não são informadas sobre o risco de os óvulos não sobreviverem ao descongelamento, de haver falha na fertilização e implantação e do aumento de morbidade materna em gestações em mulheres mais velhas. Há, de fato, pouco conhecimento sobre as implicações do congelamento de óvulos a curto e médio prazo.

 

Recomendações

Há estudos que indicam uma tendência de as mulheres subestimarem o conhecimento sobre o declínio da fertilidade relacionado à idade, por um lado, e, por outro, superestimarem o sucesso do uso de tecnologia de reprodução assistida.3

Agarwal et al.5 (2021) consideram imperativo que os profissionais de saúde ofereçam atendimento individualizado, informações detalhadas e que falem sobre os riscos e as limitações da criopreservação, para que não sejam criadas expectativas irreais. Além disso, eles devem fornecer suporte para que tais decisões não sejam pautadas em múltiplas pressões que tendam a persuadir as mulheres a realizar esse procedimento. Nesse momento, esses profissionais têm a responsabilidade de encorajar, mas não de minar a autonomia reprodutiva e a liberdade das mulheres.  

 

Considerações finais

É fato que as mudanças no contexto social e cultural possibilitaram à mulher contemporânea uma gama de oportunidades de realização pessoal para muito além da maternidade. Porém, ainda hoje percebemos que a maternidade continua sendo um grande desejo para a maioria delas, e que a busca por um parceiro ideal, assim como pelo melhor momento para desacelerar a carreira e priorizar o projeto de filhos tem sido um grande dilema para muitas. Observa-se que várias mulheres encontram no congelamento de óvulos uma saída para que possam ganhar mais tempo para essa tomada de decisão. Porém, embora a criopreservação de óvulos possa ser uma forma de reduzir a pressão do “relógio biológico”, ajudar as mulheres a refletirem sobre a ausência de garantias e a escolha do melhor momento para a maternidade torna-se um importante trabalho a ser realizado pelo profissional de saúde mental.

Referências

1. Kakkar P, Geary J, Stockburger T, Kaffel A, Kopeika J, El-Toukhy T. Outcomes of Social Egg Freezing: A Cohort Study and a Comprehensive Literature Review. J. Clin. Med. [Internet]. 2023 [cited 2023 Dec 3];12. Available from: https://doi.org/10.3390/jcm12134182

2. Baldwin K, Culley L, Hudson N, Mitchell H. Running out of time: exploring women’s motivations for social egg freezing. Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology [Internet]. 2018 [cited 2023 Dec 3];40(2):166-173. Available from: https://www.tandfonline.com/action/showCitFormats?doi=10.1080%2F0167482X.2018.1460352 doi 10.1080/0167482X.2018.1460352

3. Caughey LE, White KM. Psychosocial determinants of women’s intentions and willingness to freeze their eggs. Fertility and Sterility. 2021;115(3).

4. Pennings G. Elective egg freezing and women’s emancipation. Reprod Biomed Online. [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 3];42(6):1053-1055. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33931374/ doi: 10.1016/j.rbmo.2021.04.004

5. Agarwal S, Trolice1 MP, Madeira JL, Lindheim SR. Boutique Egg Freezing: Empowering Technology or Marketing Phenomenon? A Word of caution. The Journal of Obstetrics and Gynecology of India [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 3];71(5):560-561. Available from: https://doi.org/10.1007/s13224-021-01528-4


BAIXE O PDF DO ARTIGO