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Comitê: Famílias Plurais

Preconceito e discriminação contra famílias plurais

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Bias and Discrimination Against Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, and Queer Parents Accessing Care for Their Children: A Literature Review 

Coulter-Thompson EI. Bias and Discrimination Against Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, and Queer Parents Accessing Care for Their Children: A Literature Review. Health Educ Behav. 2023 Apr;50(2):181-192. 

Charles Schneider Borges 

Docente do curso de Medicina da Universidade Feevale 

Coordenador dos ambulatórios de Sexologia e de Ginecologia e Transgeneridade da Universidade Feevale Membro do Comitê Famílias Plurais da SBRH 

Mestre em Ginecologia e Obstetrícia pela UFRGS 

Fellow em Sexologia pela USP de Ribeirão Preto 

O artigo de Emilee I. Coulter-Thompson, publicado na revista Health Education & Behavior, é uma análise aprofundada sobre os desafios enfrentados por famílias LGBTQIA+ ao buscarem atendimento de saúde e suporte educacional para seus filhos, especialmente quando as crianças apresentam deficiências de desenvolvimento (DDs). Ao longo da pesquisa, Coulter-Thompson investiga os preconceitos estruturais, institucionais e relacionais que afetam a experiência dessas famílias, revelando lacunas no tratamento igualitário e sugerindo a necessidade de intervenções significativas para criar ambientes mais inclusivos. 

Contexto e Importância do Estudo 

As famílias LGBTQIA+ são uma parcela crescente da sociedade, e a diversidade familiar se expandiu consideravelmente nos últimos anos. No entanto, os sistemas de saúde e educação frequentemente ainda não refletem essa diversidade em suas práticas e políticas. Esses sistemas foram historicamente projetados com uma estrutura heteronormativa, o que implica que práticas, formulários e processos costumam ser orientados para famílias compostas por um pai e uma mãe, ambos cisgênero e heterossexuais. Quando as famílias da diversidade acessam esses serviços para seus filhos, muitas vezes enfrentam discriminação e barreiras que limitam o acesso a cuidados adequados. 

Através de uma revisão de literatura, a autora investiga os preconceitos e discriminações vividos pelas famílias plurais ao acessarem esses sistemas. A autora encontrou e analisou 29 artigos, provenientes de 26 estudos realizados em oito países, entre eles Estados Unidos, Austrália, Canadá e Suécia, que evidenciam como os pais LGBTQIA+ sofrem não apenas com atitudes discriminatórias explícitas, mas também com práticas institucionais e lacunas de conhecimento que impactam negativamente suas interações com profissionais de saúde e educação. 

Preconceitos Estruturais e Institucionais

Os preconceitos estruturais estão enraizados nas políticas e nos próprios sistemas que definem e regulam o acesso a cuidados e suporte educacional. A pesquisa encontrou, por exemplo, que formulários e documentos de várias instituições de saúde e educação continuam a utilizar termos que ignoram as diferentes configurações familiares, focando apenas em “mãe” e “pai”, ignorando as diferentes conformações plurais das famílias. Além disso, em alguns contextos, a falta de dados sobre famílias LGBTQIA+ leva a uma ausência de políticas específicas para incluí-las e apoiá-las, deixando os profissionais sem diretrizes claras para atender adequadamente esses indivíduos. 

Coulter-Thompson também discute como políticas institucionais podem desconsiderar a complexidade das famílias LGBTQIA+. Profissionais de saúde, por exemplo, muitas vezes não reconhecem o papel dos pais não-biológicos nas decisões médicas dos filhos, tratando-os como “não-pais” ou figuras secundárias. Esse comportamento reflete uma lacuna nas práticas institucionais que não levam em conta as diversidades familiares, o que pode afetar a comunicação entre os pais e os profissionais e, consequentemente, o cuidado e o desenvolvimento da criança. 

Preconceitos e Barreiras Relacionais 

As barreiras relacionais destacadas no estudo apontam para as interações entre pais LGBTQIA+ e profissionais de saúde e educação. Esses preconceitos se manifestam de várias formas: desde a falta de confiança dos profissionais em relação aos pais da diversidade, até comportamentos discriminatórios que tornam o ambiente desconfortável e inseguro. Um exemplo encontrado na literatura analisada inclui casos em que pais LGBTQIA+ evitam revelar sua identidade de gênero e orientação sexual ou a sua configuração familiar aos profissionais, por medo de discriminação ou julgamento. 

Esse medo de discriminação faz com que muitos pais LGBTQIA+ não compartilhem informações relevantes sobre a estrutura familiar, o que pode afetar o desenvolvimento saudável de seus filhos, especialmente aqueles com DDs, que demandam um acompanhamento próximo e intervenções precoces. Essa falta de confiança e transparência impacta negativamente a qualidade do cuidado que a criança recebe, levando ao diagnóstico tardio de deficiências e necessidades especiais. 

Um aspecto particularmente importante que o estudo revela é a influência da moralidade e das crenças pessoais dos profissionais no atendimento às famílias plurais. Alguns profissionais, devido a suas próprias convicções religiosas ou culturais, podem hesitar ou até se recusar a fornecer cuidados inclusivos a essas famílias. Esse fator representa uma grande barreira para a criação de ambientes seguros e acolhedores, além de reforçar o estigma que essas famílias enfrentam. 

Recomendação para Políticas e Práticas Inclusivas 

Para enfrentar esses desafios, Coulter-Thompson propõe diversas recomendações, tanto em nível institucional quanto relacional, visando criar políticas e práticas mais inclusivas. Uma das principais sugestões envolve a reformulação de formulários, materiais educacionais e protocolos de atendimento, para que sejam mais inclusivos em relação às diversas configurações familiares. A inclusão de terminologias neutras ou amplas nos documentos, por exemplo, ajudaria a reconhecer e respeitar os diferentes modelos familiares. 

A autora também enfatiza a necessidade de treinamento e capacitação para

profissionais de saúde e educação. Programas de formação que abordem diversidade sexual e de gênero e que incentivem a autorreflexão podem ajudar a diminuir preconceitos inconscientes e preparar profissionais para lidar de forma sensível e inclusiva com as famílias plurais. Além disso, a criação de diretrizes que ajudem profissionais a lidar com questões de diversidade familiar pode promover um ambiente mais seguro e aberto para essas famílias. 

Outro aspecto importante é o desenvolvimento de políticas de diversidade e inclusão dentro das organizações de saúde e educação. Coulter-Thompson recomenda que organismos reguladores, associações profissionais e formuladores de políticas monitorem as práticas e assegurem que elas estejam alinhadas com princípios de inclusão e respeito à diversidade familiar. Esses passos são cruciais para criar sistemas que honrem a diversidade, promovam a equidade e reduzam disparidades. 

Conclusões e Implicações Finais 

O estudo de Coulter-Thompson conclui que, embora muitos pais LGBTQIA+ tenham tido experiências positivas de interação com profissionais de saúde e educação, há um número significativo de relatos de discriminação e preconceito. As experiências negativas têm impactos profundos no bem-estar das crianças, pois dificultam o acesso a serviços essenciais, especialmente em casos de deficiências de desenvolvimento. Esse cenário aponta para a necessidade urgente de políticas inclusivas, que garantam que as famílias da diversidade possam acessar todos os serviços necessários sem enfrentar preconceito ou discriminação. 

O artigo enfatiza a importância de um esforço contínuo e coordenado para que saúde e educação se tornem ambientes seguros e acolhedores. Instituições e profissionais têm um papel fundamental na construção de um futuro mais inclusivo, onde todas as crianças, independentemente da configuração familiar, possam crescer e se desenvolver em um ambiente que respeite sua identidade e a de sua família.

 

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