Autoria:
Estella Thaisa Sontag dos Reis
Comitê de Famílias Plurais
Coordenadora:
Lucia Alves da Silva Lara
Membros:
Estella Thaisa Sontag dos Reis
Carla Maria Franco Dias
Bruna Holanda Luz Nascimento
Camylla Felipe Silva
Charles Schineider Borges
Ludmila Machado Neves Bercaire
Mary Elly Alves Negrão
Highlight |
É de suma importância aprofundar o conhecimento das diferenças entre identidade de gênero e orientação sexual para que os ginecologistas e obstetras possam oferecer acolhimento e suporte adequados à população LGBTQIAP+, incluindo a terapia hormonal de afirmação de gênero, cirurgias para quem deseja, planejamento familiar e profilaxias visando a prevenção de agravos e a promoção da saúde integral a esta população. |
Introdução
A identidade de gênero e a orientação sexual são elementos distintos em uma pessoa . A identidade de gênero representa o sentimento da pessoa de pertencer a um gênero específico. Já a orientação sexual refere-se ao objeto de atração sexual da pessoa podendo ser pelo sexo oposto, pelo mesmo sexo, por ambos, ou até por nenhum. Nos últimos dez anos, houve um notável aumento do número de pessoas que se reconhecem dentro de um espectro da identidade de gênero e da orientação sexual, possivelmente devido a maior visibilidade que esta população vem conquistando. Muitos necessitam cuidados médicos para adequação do corpo ao gênero ao qual a pessoa se identifica . Assim, é imprescindível que os profissionais de saúde, especialmente os ginecologistas e obstetras (GO) possuam conhecimento aprofundado sobre a distinção entre identidade de gênero e orientação sexual. Essa conscientização é uma ferramenta fundamental para oferecer uma assistência adequada às necessidades específicas da população LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, queers, intersexo, assexuais, panssexuais e outras variações), buscando garantir um cuidado inclusivo e compassivo.
Transgêneros
O sexo genético determina o desenvolvimento dos órgãos sexuais internos e externos mas, não determina a identidade de gênero . Na maioria da população, há congruência entre o sexo genético e a identidade de gênero . Segundo a CID-11, o termo “cisgênero (cis)” é destinado às pessoas que se identificam com o sexo atribuído ao nascimento , ao passo que o termo transgênero é atribuído às pessoas que não se identificam ao sexo que lhes foi designado ao nascimento . O termo transgênero (trans) indica não só a identidade de gênero, mas representa a expressão de gênero e o comportamento da pessoa trans que não se alinha com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer . Dentro desta categoria, são agrupadas várias denominações que representam o amplo espectro de identidades de gênero que existem, tais como agênero, gênero fluido, gênero neutro, entre outros .
A incongruência de gênero (IG) é definida pela CID-11 como uma “incongruência marcada e persistente entre o gênero experimentado de um indivíduo e o sexo atribuído” . Nesse sentido, a IG masculina (homem trans) refere-se a uma pessoa designada ao nascimento como sexo feminino, mas que se identifica como homem. Por outro lado, a IG feminina (mulher trans) refere-se a uma pessoa designada ao nascimento como sexo masculino, mas que se identifica como mulher . A diferenciação sexual dos órgãos genitais ocorre antes da diferenciação sexual do cérebro, podendo não ser congruentes . A teoria mais aceita sobre a formação da identidade de gênero e da orientação sexual é de que, ambas, influenciadas por fatores hormonais e genéticos que atuam durante o desenvolvimento intrauterino do feto. Portanto, não se trata de “opção” do indivíduo e sim de uma condição biológica ainda não esclarecida .
Orientação sexual
A orientação sexual diz respeito a um padrão duradouro de atração emocional, romântica e/ou sexual por pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto ou de ambos os sexos . A orientação sexual é comumente abordada em três categorias: heterossexual (com atração sexual por pessoas do sexo oposto), homossexual (com atração emocional, romântica ou sexual por pessoas do mesmo sexo) e bissexual (com atração emocional, romântica ou sexual por homens e mulheres). Para a maioria das pessoas, a orientação sexual é algo que é sentido naturalmente, com pouco ou nenhum senso de escolha envolvido . A compreensão da origem da orientação sexual continua a ser um desafio no campo científico, e até o momento não foram encontradas evidências que sustentaram sua influência de fatores sociais após o nascimento.
Tabela 1: Terminologias e definições sobre identidade de gênero e orientação sexual
Gênero / Identidade de gênero | O sentido intrínseco de identidade de uma pessoa e como ela se relaciona com o mundo, considerando sua perspectiva de gênero. |
Sexo | O termo refere-se à designação atribuída no nascimento com base na avaliação da genitália externa, dos cromossomos e das gônadas. |
Transgênero | Refere-se a indivíduos cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído no nascimento. O termo “trans” é frequentemente utilizado como abreviação. Um homem transgênero é alguém que possui uma identidade de gênero masculina, embora tenha sido designado como do sexo feminino ao nascer. Por outro lado, uma mulher transgênero é alguém que possui uma identidade de gênero feminina, embora tenha sido designada como do sexo masculino ao nascer |
Homem transgênero | É alguém que possui uma identidade de gênero masculina, embora tenha sido designado como do sexo feminino ao nascer. |
Mulher transgênero | É alguém que possui uma identidade de gênero feminina, embora tenha sido designada como do sexo masculino ao nascer. |
Cisgênero | A identidade de gênero é congruente ao sexo do nascimento. |
Não-binário | Refere-se a indivíduos transgênero ou pessoas que não se conformam com as categorias tradicionais de gênero, identificando-se fora do espectro binário de homem e mulher. |
Orientação sexual | Refere-se exclusivamente à atração sexual de uma pessoa e não está diretamente ligada à sua identidade de gênero. |
Fonte: Guidelines for the Primary and Gender-Affirming Care of Transgender and Gender Nonbi- nary People Center of Excellence for Transgender Health Department of Family & Com- munity Medicine University of California San Francisco 2nd Edition – Published June 17, 2016 Editor – Madeline B. Deutsch, MD, MPH.
REFERÊNCIAS:
- Roselli CE. Neurobiology of gender identity and sexual orientation. J Neuroendocrinol. 2018 Jul;30(7):e12562.
- Coleman E, Radix AE, Bouman WP, Brown GR, de Vries ALC, Deutsch MB, et al. Standards of Care for the Health of Transgender and Gender Diverse People, Version 8. Int J Transgend Health. 2022 Aug 19;23(sup1):S1–259.
- The Lancet. ICD-11. Vol. 393, The Lancet. 2019.
- de Ziegler D, de Sutter P. Transgender men: clinical care and implications in reproductive medicine: introduction. Fertil Steril. 2021;116(4).
- Wierckx K, Elaut E, Van Hoorde B, Heylens G, De Cuypere G, Monstrey S, et al. Sexual Desire in Trans Persons: Associations with Sex Reassignment Treatment. Journal of Sexual Medicine. 2014;11(1).