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Comitê: Enfermagem

Perdas Gestacionais: A sensibilização da equipe multidisciplinar frente ao aborto.

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Por Aryane Moreira e Susan Verillo

 

Ao longo do mês de Outubro a comunidade propicia momentos de celebrar, prevenir e sensibilizar diversos temas (religiosos, históricos e profissionais) sendo que  “Outubro Rosa” é um dos mais importantes. Contudo, há uma celebração, ainda pouco conhecida e divulgada neste mês, o dia Internacional da Conscientização e Sensibilização pelas Perdas Gestacionais, Neonatais e Infantis. A celebração em forma de homenagem aos bebês que se foram é chamada “Onda de Luz” (Wave of Light) é celebrada pelos pais que passaram por alguma situação de perda.

A gravidez e o parto, são acontecimentos sociais que acrescentam novas experiências e desafios à vivência reprodutiva de homens e mulheres, geralmente associados a felicidade. Para a mulher que deseja ser mãe, o nascimento de sua prole, a disseminação do seu DNA, são um dos momentos mais esperados por ela, sendo o legado de sua contribuição para a sociedade, o fruto do seu ventre, o seu recém-nascido.

Todavia, fatos inesperados podem acontecer durante a gestação, os quais poderão vir a determinar a perda fetal. Toda aquela fase desejada para a maioria das mulheres e associada ao evento de vida se reverte em dor e em uma perda concreta, na qual todas as expectativas criadas são desfeitas, deixando em sua maioria marcas profundas e traumáticas.

O abortamento espontâneo ocorre em aproximadamente 10% das gestações, envolvendo sentimentos de perda, culpa pela impossibilidade de levar a gestação a termo, além de trazer complicações para o sistema reprodutivo, requerendo atenção técnica adequada, segura e humanizada.

Infelizmente, essa situação não é incomum de acontecer, estima-se que 1 em cada 5 gestantes sofrem abortamento. Essas interrupções são consideradas aborto quando ocorrem até as 22 semanas e o feto pesa menos que 500 gramas, não sendo viável ainda que sobreviva fora do corpo materno.

Aqueles que sofrem a perda gestacional ou neonatal, além de vivenciarem o luto, precisam passar pelo não reconhecimento do mesmo. As pessoas nem sempre estão preparadas para acolher essa mulher ou o casal. O abortamento é um grave problema de saúde multidisciplinar, e a desumanização do atendimento às mulheres que passam por esse processo é uma realidade de muitos serviços de saúde. Tal situação pode sensibilizar a mulher, fazendo-a sofrer física e emocionalmente, e se agravar devido a uma assistência despreparada.

Os profissionais devem orientar familiares e cônjuge para que não julguem ou minimizem os sentimentos dessa mãe. Hospitais e maternidades precisam atentar aos cuidados dessa família e sempre que possível não colocar em um mesmo ambiente, mães que perderam o seu filho com aquelas que mantêm a gestação com êxito ou com seus filhos nos braços. Instituições de saúde que não se atentam a esses detalhes são referidas como um lugar frio e desumano.

Sugerir uma nova gravidez a este casal, em um momento tão delicado, pode soar insensível por supor que outro filho irá suprir a ausência daquele que não está presente. Isso ocorre por não atribuir a um bebê pré ou pós-termo o estatuto de Pessoa, não existindo o reconhecimento desses seres de vida breve, consequentemente, não reconhece a dor da perda. A gravidez após episódios de perdas gestacionais recorrentes, requer um acompanhamento especializado e tratamento individualizado. As chances de sucesso com técnicas de reprodução assistida, após ser traçado a sua terapêutica chega a 70%.

A medicina reprodutiva cada vez mais tem aprimorado suas técnicas através de pesquisas, onde é possível investigar as causas da recorrência das perdas gestacionais. Para tanto, é necessário analisar o tipo de aborto para seguir com as orientações individualizadas para cada mulher.

A tabela abaixo mostra a classificação do abortamento, visto que a avaliação é extremamente relevante frente a melhor escolha terapêutica do especialista em reprodução humana.

FONTE: MERCK E SHARP & DOHME CORP. (2019)

 

Dentre os fatores de risco para abortamento, podemos citar: idade da mulher (principal fator para aneuploidias), número de abortos anteriores, Síndrome do anticorpo antifosfolípide, malformações uterinas adquiridas ou congênitas que costumam se associar a perdas mais tardias, anormalidades cromossômicas no casal, hipotireoidismo clínico, obesidade, endometrite crônica e por fim fatores ambientais, como estresse, grande consumo de álcool e outras drogas.

Segundo artigo publicado na Nature em 10 de dezembro de 2020, recomenda-se uma investigação causal, após segunda perda gestacional. Dentro dessa investigação profunda do caso, temos desde exames para avaliar a cavidade uterina, triagem sanguínea específica para investigação do abortamento onde inclui exames genéticos, marcadores para doenças autoimunes, e hormonais.

Independentemente do tipo do aborto cabe a equipe multidisciplinar, principalmente os profissionais que estão diretamente atendendo essa paciente, criar um ambiente acolhedor para que ela possa sentir-se protegida. A sensibilidade dos profissionais de saúde deve ir além, respeitando os momentos de nervosismo, culpa, ansiedade, tristeza, raiva e extrema dor.

Uma vez que os enfermeiros são os principais prestadores de cuidados destas mulheres, torna-se necessário conhecer a percepção destes frente ao tema, pois o seu conceito interferirá diretamente na qualidade da assistência prestada à mulher,  sendo necessário desenvolver estratégias eficazes que auxiliarão em situações de perda.

A promoção humanizada de estratégias de intervenções individualizadas, tanto nos âmbitos públicos como particulares, deve ser desenvolvida a fim de olhar a mulher como um todo. Nesse sentido, a partir do momento em que a compreende com suas especificidades e singularidades, é possível viabilizar um diálogo e condutas que incentivem a se autoconhecer e ajuda-la no enfrentamento do aborto nos seus aspectos físicos e mentais, bem como gerir um atendimento acolhedor de toda equipe multidisciplinar, na tentativa de poder minimizar o sofrimento do momento, ela possa levar consigo o sentimento humanitário de um atendimento em saúde.

 

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