Como vimos na última edição do Papo de Laboratório, a história da embriologia no Brasil é muito recente, temos o privilégio de ainda conviver e aprender com os pioneiros da nossa profissão. Poder contar com o feeling e acúmulo de conhecimento de anos de trabalho desses personagens é algo inestimável.
Enquanto pensávamos em quem convidaríamos para falar um pouco sobre o duro início da nossa profissão, sempre lembrávamos de Aparecida dos Santos Canha, a famosa Cidinha.
Cidinha tem uma história diferenciada na Reprodução Assistida, foi uma pioneira, dedicada ao tratamento na infertilidade do serviço público de saúde, mentora de diversos profissionais da área, além de uma guerreira que esbanjou resiliência quando foi acometida por uma condição clínica que tentou impossibilitá-la de exercer a embriologia.
O Comitê Nacional de Embriologia em nome da SBRH tem a honra de prestar essa homenagem para você Cidinha. A palavra é sua, nos conte sua história:
Sou Bióloga por formação, terminei minha graduação em licenciatura e bacharelado 1.984 e me ingressei no mercado de trabalho dando aulas e apesar de adorar ensinar, decidi procurar outra especialidade no campo da biologia, e fui trabalhar na anatomia patológica e na radiologia do Hospital das Clinicas de São Paulo onde tive a honra e o prazer de trabalhar com o Dr. Paulo Carneiro e me apaixonei pelas técnicas laboratoriais.
E em 1990 fui convidada a trabalhar em um Clinica chamada Pró Pater (promoção da paternidade responsável) e foi aí que descobri minha verdadeira vocação, meu primeiro contato com as técnicas de RA vieram pelas mãos do Dr. José Geraldo Aguiar F. Jr. e fiquei encantada.
Meses depois fui indicada para uma vaga no Hospital Pérola Byington, e lá estava eu assustada com o tamanho da responsabilidade de um serviço daquele tamanho, mas logo me senti a vontade e foi ai que conheci os três grandes alicerces da minha formação profissional, Dr. Artur Dzik, Dr. Gilberto Costa Freitas e o Dr. Jonathas Borges Soares que além de meus grandes mestres, companheiros de trabalho tornaram-se meus grandes amigos. Com eles não só aprendi e aperfeiçoei as técnicas laboratoriais, mas passei a ver a Reprodução Humana com outro “olhar”, pois até então só tinha acesso às células manipuladas e agora conseguia ver um serviço como um todo, uma equipe multidisciplinar trabalhando engajada num único proposito, o casal infértil. Lá fiz grandes amigos e tenho boas e eternas lembranças.
E lá também comecei uma nova jornada, a de ter o privilegio de ensinar, ou melhor dizendo, de reaprender, porque ensinar é aprender com outros olhos.
E hoje não tenho dúvidas, que eu mais aprendi do que ensinei, agradeço a Deus a oportunidade de conhecer e conviver com cada um deles, cada qual com a seu modo próprio e com suas expectativas e tenho certeza que o ensinamento mais importante foi divido o do amor, da ética e o respeito à profissão de embriologista
Passado alguns anos, por motivos políticos, tive que afastar do Hospital e tive outras experiências como embriologista no Hospital São Lucas na Clinica do Prof. Pinotti e no serviço de Urologia a Hospital das Clinicas de São Paulo que nessa época montava o seu serviço de Reprodução Humana, mas para minha alegria eu estava de volta e agora sob uma nova admistração e foi aí que conheci o Dr. Mario Cavagna, além de um médico extremamente competente, uma pessoa generosa e amável (apesar da cara de bravo que ele tem).
Em meados de 2008 comecei como uma certa dificuldade de andar nos meus “saltos altos” e entre vindas e idas a inúmeros profissionais de ortopedista até geneticistas veio o diagnostico: ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) doença que eu nem sabia que existia, foi o dia mais triste da minha vida.
Sempre acreditei que “a vida não é para os fracos” e eu tinha duas opções: ou me acovardava ou iria viver da melhor maneira que a vida me permitia e resolvi viver com a mesma alegria que sempre me acompanhou.
E em 2010 Dr. Cesar A. Fontes e Dra. Eneida Maniglia me convidaram para compor a equipe da Clínica La Vie em Franca, e lá fui eu de “mala e cuia”, cachorro, gato e filho, meio insegura com o novo desafio, mas muito animada. Tempos depois a equipe aumentava Dr. Rafael B. Fontes e a Minha “migucha” Rita de Cassia S. Polezzi passam a fazer parte da família, e é exatamente o que eles significam para mim.
Com o tempo minhas limitações para o trabalho tornaram se mais acentuadas e para cada nova dificuldade física uma respectiva mudança na clinica era realizada a fim de me adaptar e sempre de forma carinhosa e sútil.
Atualmente me dedico às tarefas burocráticas, acabamos de montar e inaugurar uma nova unidade em Uberaba. Sinto-me totalmente adaptada, integrada e incluída a equipe coordenada por um profissional e ser humano simplesmente admirável, Dr. Cesar Fontes.
Autores
IVAN HENRIQUE YOSHIDA
SP
THELMA SANTOS CRISCUOLO
RJ
RAFAEL PORTELA (Coordenador)
SP