Autores: Bruno RV, Rodrigues MAH, Baccaro LFC, Costa LOBF, Sorpreso ICE, Albergaria B, Orcesi-Pedro A, Sóstenes P, Wender MCO, Mendes MC – Comitê do Climatério da SBRH
Em boletim, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), ao fim do ano passado (2023) expressou toda sua preocupação com o uso indiscriminado de androgênios no Brasil pela população feminina¹. Realidade, que cada vez mais, vemos em nossas clínicas no dia a dia. A SBM demonstra toda sua preocupação com a divulgação de afirmações sem fundamento científico e apelo estético-corporal no uso da testosterona e seus derivados androgênicos.
As dosagens da testosterona e seus derivados, também, não encontram respaldo nas sociedades para indicar sua reposição, fato muito comum em sites, publicações sem cunho científico, apenas midiático e divulgação por serviços que vendem e implantam a testosterona com intuito de vender qualidade de vida, desempenho, trocar massa gorda por magra e incrementar a atividade sexual, resumindo trazer um efeito anabolizante. Não tem nenhum embasamento científico, a reposição de testosterona e derivados, com apelo de baixos níveis de testosterona, em mulheres com ovários funcionantes e normais.
A indicação do uso da testosterona na mulher tem como indicação reposição em mulheres menopausadas com desinteresse sexual, como estabelecido no DSM 5. No Desejo sexual hipoativo (DSH) temos trabalhos desenvolvidos como o INTIMATE I, INTIMATE II e APHRODITE que chegaram a dose suficientes para melhorar o DSH ou interesse sexual com doses de 300mcg/dia² ,³ ,4.. Esses estudos ressaltaram que se essas doses não fossem suficientes para melhorar o interesse sexual deveriam parar o uso e não aumentar, bem como se essa melhora não se apresentasse em até 6 meses, também deveriam suspender o uso.
Em publicação recente, a Breast Cancer Research, em estudo epidemiológico concluiu que: A testosterona total e biodisponível, o SDHEA e o estradiol aumentam o risco de câncer de mama do tipo receptor de estrogênio positvo, similar a estudos observacionais. Esse entendimento deve ser estendido para melhor compreensão dessa relação5 .
O estudo em transgêneros, acredita-se ter um potencial enorme para esclarecer alguns dados sobre o assunto, apesar das doses bem altas e individualizadas para o tratamento, mas ainda com muitos conflitos científicos, como abordado em publicação do British Medical Journal (BMJ) que concluiu: Um risco aumentado de câncer de mama em mulheres trans em comparação com homens cisgênero e um risco menor em homens trans em comparação com cisgêneros mulher. Em mulheres trans, o risco de câncer de mama aumentou em um tempo relativamente curto de tratamento hormonal e as características do câncer de mama se assemelhavam a um padrão mais feminino. Esses resultados sugerem que o rastreamento do câncer de mama em pessoas cisgêneros, pode ser implementado para os transgêneros, mas sempre com muita atenção6 . Esse trabalho traz uma crítica exatamente, porque para homens trans não houve aumento do câncer de mama, pessoas que se utilizam de androgênios para tal transformação – muito a se descobrir.
Portanto, segundo a recomendação das principais sociedades mundiais, poderíamos enumerar diversas, o uso da testosterona indiscriminado sem as indicações até aqui estabelecidas cientificamente, deve ser proscrito.
Diante disso a SBM concluiu:
- Diante da falta de estudos que atestem segurança para o uso de hormônios masculinos e tomando-se por base potenciais riscos teóricos, recomenda-se que mulheres com câncer de mama não utilizem androgênios exógenos.
- A princípio, a mesma conduta deve ser sugerida a mulheres com alto risco para a doença.
- O uso desta medicação em mulheres com baixo risco para câncer de mama, ou seja, a população em geral, pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença. A utilização deve se restringir a situações necessárias, sob rigorosa supervisão médica e após ampla discussão com a paciente.
- Informações sobre a ausência de riscos ou possível proteção mamária através do uso de androgênios, da forma como vêm sendo apregoadas na mídia e em redes sociais, são incorretas e com base nos dados científicos atuais, não devem ser repassadas à população.
Referências:
1- https://www.sbmastologia.com.br/recomendacao-sobre-uso-de-androgenios-e-cancer-de-mama/
2- Shifren, JL, Davis SR, Moreau M, Waldbaum A, Bouchard C, DeRogatis L, Kroll R. (2006). Testosterone patch for the treatment of hypoactive sexual desire disorder in naturally menopausal women: results from the INTIMATE NM1 82 Study.
3- Krapf JM, Simon, JA. The role of testosterone in the management of hypoactive sexual desire disorder in postmenopausal women. Maturitas, 63(3), 213-219.
doi: 10.1016/j.maturitas.2009.
4- Davis SR, Moreau M, Kroll R, et al; APHRODITE Study Team. Testosterone for low libido in postmenopausal women not taking estrogen. N Engl J Med 2008;359(19):2005–2017.
doi: 10.1056/ NEJMoa0707302N
5- Nounu A, Kar SP, Relton CL, Richmond RC. Sex steroid hormones and risk of breast cancer: a two‑sample Mendelian randomization study. Breast Cancer Research (2022) 24:66. doi.org/10.1186/s13058-022-01553-9.
6- De Blok CJM, Wiepjes CM, Nota NM, Van Engelen K, Adank MA, Dreijerink KMA et al. Breast cancer risk in transgender people receiving hormone treatment: nationwide cohort study in the Netherlands. BMJ 2019;365:l1652. doi: 10.1136/bmj.l1652.