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Comitê: Psicologia

Aspectos emocionais do exame de beta negativo em tratamentos de reprodução assistida

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Por Luciana Leis

Um bebê costuma nascer para seus pais muito antes de ser concebido fisicamente, ele nasce primeiro no desejo e nas fantasias daquele que vislumbra um dia ser chamado de pai ou mãe.

Desde muito cedo, tanto meninas quanto meninos brincam com seus bebês imaginários, reproduzindo no mundo do “faz de conta”, de certa forma, o que seus pais fazem com eles.

Desta maneira, quando essa criança se torna um adulto e, principalmente, quando encontra alguém disposto a colocar em andamento seu projeto de filho, o desejo de maternidade/paternidade começa a ganhar contornos de realidade e o filho passa a se tornar cada vez mais possível. Porém, quando há um diagnóstico de infertilidade, inevitavelmente, essa pessoa é obrigada a lidar com o adiamento do projeto parental e o filho, que até então parecia ser algo tão certo, passa a permear no campo da incerteza.

No entanto, com os avanços da medicina, os tratamentos de reprodução assistida devolvem aos pacientes, que deles fazem uso, a esperança de realização do desejo de ter um filho e, esse último, que com as tentativas frustradas de gravidez em casa, parecia tão distante, começa, novamente, a se aproximar de seus futuros pais.

Assim, percebemos que, ao longo de todo o tratamento, esse filho já começa a ser concebido, quase como real, no imaginário desses pacientes. Cada injeção, cada ultrassonografia, cada centavo economizado para realização das tentativas é para esse filho que, aos poucos, vai ganhando forma de gente no psiquismo de quem o anseia.

Todavia, quando o tratamento não tem como resultado o beta positivo tão esperado, essas pessoas se veem frente à frustração e decepção. Comumente escutamos, dentro deste contexto, que tal sentimento só foi vivenciado anteriormente frente a perdas de entes queridos e alguns ficam sem conseguir entender direito o porquê de estarem tão mal se “só foi uma tentativa de tratamento frustrada”.

É muito importante que esses pacientes possam entender que o beta negativo costuma trazer consigo a vivência de um luto, de uma perda simbólica, pois o bebê que foi sendo construído ao longo de todo o tratamento, de uma hora para outra, é perdido e deixa de existir com o resultado negativo de gravidez.

Não é à toa que muitas pacientes, quando ligam para as Clínicas de Reprodução Assistida para comunicarem o beta negativo e, muitas vezes, sangramento associado a essa situação, nomeiam que estão “abortando” seus bebês. É relevante ressaltar que estas não nomeiam como aborto essa experiência equivocadamente, senão, porque a estão, realmente, vivenciando dessa forma.

Portanto, é de extrema necessidade, que toda a equipe que trabalha com reprodução assistida, possa legitimar as experiências de dor e frustração trazidas a partir do exame de beta negativo, essa postura aumenta o acolhimento ao paciente e, muitas vezes, diminui o sentimento de desamparo que muitos ficam diante dessa experiência.

Além disso, respeitar o tempo de cada um para retomar o processo de tentativas é muito importante, ao contrário de negar e tentar oferecer na sequência um novo tratamento para buscar, inutilmente, reparar essa perda.