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Comitê: Psicologia

Quando Encaminhar o Paciente de RHA para o Profissional da Saúde Mental?

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Por Flávia Giacon

 

O diagnóstico de infertilidade, bem como os tratamentos para engravidar, podem ser vivenciados com grande sofrimento pelos pacientes. A literatura e a prática clínica deixam claras as evidências de que a infertilidade e seus tratamentos podem impactar as diferentes esferas da vida pessoal, conjugal, profissional e social destes indivíduos. Ao optarem pelos tratamentos reprodutivos, se deparam com uma desafiadora jornada emocional e que, de alguma forma, precisará ser enfrentada a fim de tentarem concluir o projeto parental. 

A falta de controle do próprio corpo, baixa estima, ansiedade, depressão, estresse, angústia, impotência, raiva e fracasso são alguns dos sentimentos reportados nos estudos que buscam compreender os indivíduos inférteis. São sentimentos, frequentemente, observados na prática clínica, não apenas pelos profissionais da saúde mental, mas pelos demais profissionais atentos para além do corpo biológico, preocupados também com os aspectos emocionais de seus pacientes.

 Duailibi apud Avelar & Farinati, (2021, p.97) pontuou: “Neste contexto, é necessário que haja um campo emocional onde a fertilização possa ocorrer em todos os seus aspectos, para além da abordagem médica”

Profissionais e clínicas dispostos a ofertar um atendimento integral, considerando os aspectos biopsicossocioculturais de seu paciente, estão alinhados à uma tendência do mercado que prioriza a individualização e personalização durante as tentativas para engravidar, contribuindo para que seja uma experiência de excelência em todas etapas do tratamento: 

Todos pacientes precisarão de acompanhamento psicológico? A resposta é NÃO, porém, há casos em que a equipe é capaz de identificar esta demanda e que o paciente poderá se beneficiar deste acompanhamento. 

A demanda por atendimento psicológico é sempre do paciente! É ele quem nos procura para tratar-se e é importante que não hesite em fazê-lo quando sentir que precisa de um acompanhamento profissional. Por outro lado, quando o paciente não nos procura espontaneamente, o devido encaminhamento, feito pelos profissionais da clínica, pode significar a oportunidade para uma jornada um pouco mais leve, com benefícios à pessoa atendida. 

Desta forma, a sintonia da equipe interdisciplinar é imprescindível, pois, a atenção cuidadosa dos profissionais envolvidos, pode viabilizar, em tempo hábil, promissores encaminhamentos a um profissional da saúde mental a fim de amenizar possíveis danos e promover uma jornada mais leve durante os tratamentos reprodutivos. 

É interessante que todos os profissionais que atuam em reprodução assistida tenham uma abordagem humanizada, no sentido de acolher os pacientes em suas angústias, mas é o profissional da saúde mental quem está capacitado para atender às demandas relativas ao adoecimento emocional e ao sofrimento humano. Neste nicho da Reprodução Humana Assistida, entre outras ações, está habilitado a acolher, tratar e validar os sentimentos do paciente. Além disto, auxilia e trabalha os recursos internos necessários para o enfrentamento de cada fase do processo e para as tomadas de decisões, bem como após o resultado, especialmente, quando o Beta HCG acusa negativo.

Liliana Seger, (2009, p. 101) em seu capítulo “O Atendimento Psicológico – Contribuições para o Acolhimento do Paciente de RHA”, traz um tópico que pode contribuir para que a equipe esteja atenta aos sintomas indicativos da necessidade de encaminhamento ao profissional da saúde mental. Considerações pertinentes da referida autora, reproduzidas na íntegra: 

Em que momentos a equipe tem de indicar uma avaliação emocional? 

Caso não o faça como procedimento de rotina, ela deve ocorrer quando o paciente experimente alguns dos sintomas descritos a seguir, por um período de tempo prolongado: 

  • Perda de interesse em atividades usuais; 
  • Depressão persistente
  • Relações interpessoais tensas (com o parceiro, família, amigos e/ colegas);
  • Dificuldade em pensar em outra coisa que não seja a infertilidade;
  • Altos níveis de ansiedade;
  • Diminuição da habilidade para executar tarefas;
  • Diminuição da concentração;
  • Mudanças nos padrões de sono (dificuldade em pegar no sono ou permanecer dormindo, acordar cedo, dormir mais que o usual); 
  • Mudança de apetite ou peso (aumento ou diminuição);
  • Aumento do uso de álcool ou drogas;
  • Ideias de morte ou suicídio;
  • Isolamento Social;
  • Sentimentos persistentes de pessimismo, culpa ou inutilidade

Ter conhecimento destes sintomas e estar atento a eles pode ser de grande valia para aqueles profissionais que, na sua prática diária, considerem habitual cuidar de seus pacientes de forma integral. 

Um encaminhamento ao profissional da saúde mental, quando necessário e devidamente feito, pode representar um caminho promissor a todos envolvidos, principalmente para os pacientes que estão nesta desafiadora jornada em busca do tão sonhado filho.

 

REFERÊNCIAS: 

MELAMED, Rose M.; SEGER, Liliana; BORGES, Edson & Colaboradores. “Psicologia e Reprodução Humana Assistida – Uma Abordagem Multidisciplinar”. São Paulo, Livraria Santos Editora, 2009. (p. 99-101)

MELAMED, Rose M.; STRAUBE, Karia M & Colaboradores. “1º Consenso de Psicologia em Reprodução Assistida – SBRA”. Rio de Janeiro, Editora Livre Expressão, 2013. (p. 40)

MELAMED, Rose M.; STRAUBE, Karia M & Colaboradores. “Tempos de Pandemia – Recomendações de Atenção Psicossocial à Infertilidade e Reprodução Assistida”. São Paulo, Soul Editora, 2021. (p. 97)