Maternidade Tardia
Intervenção Psicológica
Flavia Giacon e Vanya Dossi
A maternidade tardia, definida pela maioria dos protocolos como a gravidez a partir dos 35 anos, está se tornando uma tendência crescente no Brasil e no mundo, impulsionada por mudanças sociais e avanços na medicina reprodutiva. Embora ofereça benefícios, ela também apresenta desafios e riscos que precisam ser gerenciados com um acompanhamento médico cuidadoso.
Segundo dados do IBGE de 2022, divulgados em maio deste ano, a maternidade no Brasil acontece cada vez mais tarde. Esse adiamento da maternidade se deve a vários fatores, incluindo: maior inserção da mulher no mercado de trabalho e investimento na carreira profissional; maior autonomia para decidir o momento certo de ter filhos e avanços na medicina reprodutiva, como o congelamento de óvulos, que oferece mais opções de planejamento familiar. Ainda de acordo com o Instituto, o número de partos de mulheres com 40 anos ou mais cresceu significativamente entre 2003 e 2022.
O marco dos 35 anos é considerado um ponto de corte baseado em fatores biológicos relacionados à fertilidade feminina. A partir dessa idade, a quantidade e a qualidade dos óvulos começam a diminuir mais rapidamente e a mulher enfrenta desafios biológicos específicos relacionados à reprodução, o que pode resultar em dificuldades para engravidar, risco de menopausa e uma maior probabilidade de abortos espontâneos.
Além da dificuldade na concepção, a gravidez nessa faixa etária exige monitoramento rigoroso, pois aumenta o risco de complicações para a mãe. Entre os quadros clínicos mais comuns estão o diabetes gestacional e a hipertensão, que podem evoluir para condições graves como a pré-eclâmpsia e eclâmpsia, elevando também os riscos de hemorragias e dificuldades durante o parto. É importante ressaltar, porém, que o termo “alto risco” não significa que a gravidez será, necessariamente, problemática. Muitas mulheres têm gestações saudáveis e tranquilas após os 35 anos, especialmente com um acompanhamento pré-natal cuidadoso e personalizado.
Vale destacar também as possíveis complicações para o bebê como aumento das chances de alterações genéticas, maior índice de sofrimento fetal, maior probabilidade de prematuridade e baixo peso ao nascer.
Para muitas mulheres, o sucesso na carreira e a realização profissional são objetivos que competem diretamente com o desejo de ser mãe. Socialmente, o ideal é que a mulher consiga conciliar a maternidade com o trabalho.
Para otimizar o processo terapêutico com mulheres que optam pela maternidade tardia, é necessário que o psicólogo adapte sua prática às demandas singulares de cada paciente, considerando o estágio em que ela se encontra — seja no planejamento, na gestação ou no pós-parto.
Nesse contexto, é possível que o/a psicólogo/a tenha condições de:
- Trabalhar a tomada de decisão de ter filho/ significados/ determinações/ consequências;
- Acolher os motivos do adiamento do projeto de ser mãe: motivos profissionais, saúde, falta de um parceiro, ameaça à satisfação conjugal;
- Trabalhar os efeitos do adiamento da concepção em busca de outros ideais/ crença de controle total do período da fertilidade/ ilusões/ sofrimentos, culpa;
- Saber se houve a influência da família de origem/contexto social;
- Investigar a rede de suporte familiar e social e trabalhar as expectativas em atender a esses contextos;
- Trabalhar os efeitos das investigações médicas e tratamentos invasivos da reprodução assistida e as consequentes emoções vividas;
- Pensar junto em alternativas de vida diante da impossibilidade de poder ter o filho biológico;
- Trabalhar os lutos provenientes desta condição; quando há indicação para recepção de óvulos, trabalhar as questões correlacionadas; se a adoção legal for uma opção, auxiliar nas reflexões necessárias; por fim, se necessário for, trabalhar as questões relacionadas ao projeto de vida sem filhos.
A demanda sempre é da paciente. Que esta mulher possa ter espaço para trabalhar suas questões emocionais e ter condições para fazer escolhas mais consistentes e seguras.
Referências bibliográficas:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/
Lopes, H. P. Adiamento da maternidade e conflitos da perda da fertilidade In: Temas contemporâneos de psicologia em reprodução humana assistida: a infertilidade e seu espectro psicoemocional / Katia M. Straube e Rose M. Melamed (organizadoras). São Paulo: Livrus Editorial, 2015. p.25 a 41