Por Helena Maria Loureiro Montagnini
Ana Bardella, da Universa Uol, escreveu uma matéria intitulada “Futuro Interrompido”, no dia 25/10/2021.
Ela inicia sua reportagem com a informação de que a cada ano, 23 milhões de gestações em todo o mundo terminam em aborto espontâneo, de acordo com estudos publicados pela revista médica “The Lancet”, em março de 2021. Apesar de ser uma experiência comum, ela ainda é cercada de tabus. Muitos preferem não comentar sobre o ocorrido e sobre seus impactos emocionais.
Bardella apresentou o relato de quatro mulheres, que falaram sobre o sofrimento vivido, destacando a maneira singular com que cada uma lidou com a perda, assim como essa experiência afetou o relacionamento conjugal.
As perdas gestacionais, especialmente as ocorridas precocemente, no primeiro trimestre, costumam ter um reconhecimento social limitado. São perdas com pouca visibilidade, pois não há um corpo a ser velado, com todos os rituais e emoções que acompanham esse processo. É um sofrimento que costuma ser vivido solitariamente pelos casais, sem amparo emocional.
Nas clínicas de reprodução assistida, muitas são as perdas vivenciadas durante a trajetória de ter o filho desejado. Após a realização de tratamentos, marcada por alternâncias de expectativas e frustrações, o teste positivo da gravidez é recebido com muita alegria. Neste contexto, a perda do filho provoca intenso sofrimento, pois houve um grande investimento físico, emocional e financeiro para se chegar a esse resultado. Há de se considerar também que os insucessos dos tratamentos, mesmo aqueles que não resultam em gravidez, podem ser acompanhados da mesma dor do filho perdido. Adriana Binotto*, se refere a estas perdas como a “perda de um filho em expectativa”.
Ressalto a importância de todas as equipes de profissionais das clínicas de reprodução assistida estarem atentas ao sofrimento decorrente dos insucessos dos tratamentos e especialmente das perdas gestacionais, dando-lhes a visibilidade necessária e acolhendo emocionalmente seus pacientes. Identificar os que estão mais vulneráveis e encaminhá-los para um trabalho psicológico para ajudá-los a lidar com a perda e com a elaboração do luto, facilitando o processo de atribuição de um sentido às experiências vividas. O processo de elaboração psíquica da perda é fundamental para se organizarem emocionalmente e prosseguirem em novas tentativas para ter o filho desejado.
*Binotto,AMF. Natimorto, aborto e perda gestacional: a morte no lugar do nascimento – Um olhar e uma escuta humanizados. In: Dor silenciosa ou dor silenciada? Niterói: PoloBook,2015. p.35-50