Autores: Andréa Pegoraro. Aryane Moreira dos Santos e Juliana Assi
A partir dos anos 70, os mercados mundiais passaram a ser gerenciados com o objetivo de adquirir mercadoria em grande quantidade com custos mais baixos e maior qualidade no atendimento, sendo assim as empresas precisaram se adaptar rapidamente com a demanda de produtos, atendendo um público cada vez mais exigente.
A qualidade antes era vista como um processo de vistoria (inspeção), hoje o seu conceito é voltado ao gerenciamento estratégico, no qual a maior preocupação é satisfazer as necessidades do cliente. Ou seja, não se refere apenas à performance de um produto ou serviço em particular, mas sim às características de efetividade do processo como um todo, isso inclui tudo o que ocorre na empresa com o objetivo final de satisfação dos stakeholders (clientes, trabalhadores, gestores e sociedade).
A gestão de qualidade é o exercício de supervisionar as atividades, tarefas e processos utilizados na criação de um produto ou serviço, para que mantenha um padrão alto e consciente. E para que isso se torne real, foram criadas as ferramentas da qualidade, que são conjuntos de metodologias utilizadas para definir, medir, analisar e resolver problemas que impactam nos resultados das organizações. (Livro Gestão de qualidade em saúde: conceitos e ferramentas da qualidade como estratégia de construção e práticas em gestão em saúde).
Ou seja, trata-se da supervisão das atividades produtivas da empresa com objetivo de garantir a adequação dos produtos aos requisitos estabelecidos e a excelência na execução de todas as tarefas e procedimentos. (ISO9001,2015)
Ao longo dos anos, verifica-se uma movimentação significativa por parte das organizações de saúde para melhorarem a sua eficiência e qualidade, isso por múltiplas razões como: ganhos econômicos, elevado número de profissionais com formação em diferentes especialidades, elevadas expectativas do público-alvo, e maior complexidade dos processos desenvolvidos.
Nos Centros de Reprodução Humana Assistida (CRHA) em específico, existem muitas particularidades nas questões de controle de qualidade, principalmente com a atualização da legislação que dispõe sobre as Boas Práticas em Células e Tecidos. Germinativos e Embriões Humanos para uso terapêutico (RDC N°771, de 26 de dezembro de 2022), ficou ainda mais clara e evidente a importância da implantação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) que, além de trazer obrigatoriedades, traz norte para as clínicas e centros de reprodução humana iniciarem ou darem continuidade aos processos já existentes relativos a esse ponto. Sua representatividade é notória, e permeia todos os setores e profissionais de Reprodução Humana: enfermagem, laboratório, médicos e equipes de apoio em geral, o que demonstra um ganho de espaço ainda maior dentro da resolução.
A enfermagem é de fato, responsável por grande parte destas atividades, por isso é fundamental que a equipe esteja devidamente qualificada e capacitada, a fim de garantir excelência no serviço prestado aos pacientes, considerando os padrões de riscos e segurança do paciente desde o momento que egressa na clínica até sua saída.
Dentre os processos que a enfermagem pode atuar, abaixo temos alguns dos principais:
A infraestrutura física de CRHA adequada e, consequentemente o registro de funcionamento específico para os procedimentos realizados, são questões de primeira instância a serem avaliados, para que o centro estava apto para liberação de atendimentos e procedimentos.
Na gestão de documentos é obrigatório um controle rigoroso de documentos, com protocolos e POP (Procedimento Operacional Padrão), revisados e aprovados anualmente ou sempre que houver mudança em um de processo, ainda assim é fundamental realização de auditorias internas periódicas para verificar conformidade com as normas aplicáveis;
Nos setores críticos, tais como centro cirúrgico, centro de materiais e esterilização e laboratório, o profissional de enfermagem atua principalmente com a equipe de laboratório, pois são setores que dependem um do outro, podendo interferir diretamente nos resultados apresentados.
Sabemos que os processos são amplos quando se trata de gestão de qualidade, desde controle ambiental dos ambientes críticos, passando pela qualificação e validação de equipamento, assim como comprovação de que todos os equipamentos e processos definidos como críticos estejam com os parâmetros monitorados, em caso de não estar
Outra questão importante são cumprir regras rigorosamente de biossegurança e higiene, para que possamos manter a eficácia e excelência no atendimento do serviço. (RDC 771, 2022)
Para se ter uma qualidade eficaz, deve-se lembrar que o caminho é cheio de obstáculos e dificuldades que serão vencidas na busca por melhorias dos processos de atendimento e gestão. Apenas atuar na resolução do problema, após a ocorrência não trará muitos benefícios para a Instituição. Para uma gestão de qualidade coerente, a proposta é antecipar os problemas futuros. (Revista de Administração em Saúde)
Claramente, a qualidade é uma responsabilidade de todos os níveis da organização, incluindo da equipe de enfermagem. Ao implementar um sistema de gestão da qualidade, a organização se prepara de melhor maneira para gerenciar os riscos relacionados, e obtém benefícios quanto a melhor compreensão dos aspectos institucionais, identificação das questões críticas através do pensamento baseado em riscos, satisfação do cliente/paciente, redução de perdas indesejadas, e muito mais.
Assim, podemos concluir que o campo de atuação da enfermagem dentro do universo da Gestão da Qualidade na Reprodução Humana Assistida vai muito além de considerar a assistência direta ao paciente, pois o profissional tem condições de avaliar os processos de maneira estratégica e tomar decisões que podem implicar de maneira muito representativa para os resultados da organização como um todo, desde um simples processo na base até a realização de auditorias internas e validações de processos críticos que alteram o resultado da clínica.
Além disso, essa percepção nos faz refletir na evolução dos centros de reprodução humana no que se refere aos aspectos da qualidade, pois ao estudarmos organizações acreditadoras e os pilares que são por elas avaliados, como por exemplo: gestão de processos, desenvolvimento de pessoas, ética, exercício de liderança, segurança do paciente, entre outros, nos deparamos com uma maturidade que até alguns anos atrás era ainda de certa forma desconhecido. (ONA, 2022)
Referências
- Brasil, Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). RDC n.771n de 26 de dezembro de 2022. Dispõe sobre as Boas Práticas em Células Germinativas, Tecidos Germinativos e Embriões Humanos, para uso terapêutico, e dá outras providências. Brasília, DF;2022.
- Furtado, C. F. do Carmo et al. Gestão de qualidade em saúde: conceitos e ferramentas da qualidade como estratégia de construção e práticas em gestão em saúde. Campina Grande: Editora Amplla, 2022. p. 163 (https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=eDe9EAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA6&dq=gest%C3%A3o+de+qualidade+em+sa%C3%BAde&ots=yQi5XLrx1s&sig=wEIPvlbWy9xu4wiXc9iAym3T4A8#v=onepage&q&f=false)
- Burmester, H. Gestão da qualidade em saúde. Rev Ad. Saúde – Vol.18, nº70
DOI: http://dx.doi.org/10.23973/ras.70.78– https://cqh.org.br/ojs-2.4.8/index.php/ras/article/view/78/98)
- ONA.Manual de serviços para saúde: selo de qualificação, 2022.
- ISO, International Organization for Standartization, 2015.
