Comentário sobre o artigo “Parental sexual orientation, parental gender identity, and the development of children”. Charlotte J. Patterson. University of Virginia, Charlottesville, VA, United States *Corresponding author: e-mail address: cjp@virginia.edu
Autora: Camylla Felipe Silva
Nos últimos anos, muitos adultos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBTQ+) tornaram-se pais. Os motivos para se construir uma família são os mesmos manifestados por casais heteronormativos. No entanto, a parentalidade LGBTQ+ permanece um tópico controverso em todo o mundo. Várias perguntas foram levantadas. A capacidade de serem pais e/ou mães, e o desenvolvimento dos filhos são os principais tópicos discutidos.
Por exemplo, pais lésbicas e gays eram considerados improváveis de ter sucesso em papéis parentais, e inadequados como modelos para crianças. Esperava-se que as crianças sofressem discriminação e fossem rejeitadas por seus colegas, com impacto psicológico negativo, além de se argumentar que as crianças de pais lésbicas e gays poderiam apresentar um desenvolvimento de gênero atípico.
Essa crença resulta em uma maior dificuldade para pessoas LGBTQ+ constituírem uma família. Em geral, clínicas, agências de adoção e profissionais de saúde são menos capacitados para atenderem às demandas específicas dessa população, podendo, por vezes, até se negarem a prestar atendimento, por diversos motivos, entre as quais por motivos religiosos mais extremos.
As pesquisas aumentaram e vieram com grande impacto positivo no entendimento do funcionamento da família LGBTQ+, com inclusão social e desmistificação dos preconceitos que cercam a comunidade plural.
Os caminhos para a parentalidade LGBTQ+ têm uma variedade extensa, vão desde adoção, uso das técnicas de reprodução assistida, e até mesmo crianças provenientes de relacionamentos heterossexuais anteriores dos pais. Todos os formatos de famílias são estudados.
Apesar do maior empenho em entender todos os cenários familiares, o tema ainda carece de mais estudos, principalmente em torno das famílias com pais e mães transgêneros.
A análise dos desafios e fortalezas enfrentados por pais LGBTQ+ revela uma dualidade complexa. Embora essas famílias enfrentem obstáculos exclusivos, como estigmatização social, também demonstram resiliência notável e habilidades parentais admiráveis. Os desafios se transformam em capacidades únicas. A complexidade dessa transição ressalta a importância de apoio e recursos específicos para garantir um ambiente saudável para o desenvolvimento da família.
Os resultados dos estudos sugerem tanto que os adultos LGBTQ+ são bem-sucedidos em seus papéis como pais, quanto que seus filhos se desenvolvem de maneiras positivas. Pais LGBTQ+ são mais abertos à adoção, a múltiplas etnias, e prestam menos importância aos laços biológicos. Não parece haver diferença na reação dos filhos em casos de divórcios entre pais/mães LGBTQ+ ou heteronormativos. Os estudos também apontam desenvolvimento comportamental e emocional semelhante entre filhos de casais heteronormativos e LGBTQ+. Em geral, os resultados até o momento indicam que a orientação sexual e a identidade de gênero dos pais por si só não determinam o sucesso na parentalidade ou no desenvolvimento infantil; de fato, pais e filhos pertencentes a minorias sexuais e de gênero têm demonstrado notável resiliência, mesmo diante de muitos desafios.
Toda essa diversidade reflete no comportamento dos filhos, que se mostram, pelos estudos, mais tolerantes frente às diferenças e mais mente aberta. Questões contextuais, assim como implicações das descobertas de pesquisa para leis e políticas em todo o mundo, são discutidas. A maioria dos estudos concentra-se em países de língua inglesa, como Estados Unidos e Inglaterra. Mais estudos em nível global são necessários para entender aspectos sociais de outras culturas e etnias.